quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

Luz-noite.

anoitece em claro
nesse quarto insone
quase horas, quase dias
quatro luas e um sol
pendurados na janela
apaga a luz
apaga os olhos
e deixa o escuro te cobrir

Sono.


Esse gato

parece um rei
Com seu colarinho branco
e sua capa escura



É o rei das panteras

pumas, tigres, leões
Rei dos felinos
e das mulheres da minha casa

Enquanto ele dorme
em minha cama
Eu afago a cabecinha
do Sono adormecido

Pequeno
ele ronrona

Gato preto
do colarinho branco
Você é como um rei
E meu colo é seu trono

domingo, 28 de março de 2010

Alcunha.

Tenho medo de a ansiedade destruir a minha espontaneidade. Mas tenho mais medo de a impulsividade me levar à insensatez. Não sei até quando a sinceridade será tão vantajosa – mesmo quando se mente sinceramente. Fico me aproximando da vertigem e da vontade de despencar. É intenso. E é óbvio. Finjo ser qualquer pessoa além de mim. Para poder me ver. Para poder voltar a me existir. Experimento, agora, beber uísque. Sair com pessoas desconhecidas. Arriscar outras palavras. Usar roupas vermelhas – ao invés das sempre pretas. Acreditar em outras verdades. Ouvir as músicas das quais nem gosto mais. Ler sobre religiões que não são a minha – porque eu nem ao menos tenho religião. E dia desses, as 3 e pouco da manhã, chamaram-me pelo meu nome. Andava pela rua de sempre. E eu, que não me sei nada, sou ‘Camila’ para alguém que não conheço. A simplicidade é como a pedra de gelo. Derretendo e se misturando ao álcool. Enchendo o copo com sua falta de gosto. Embriagando. E depois indo embora.

sexta-feira, 26 de março de 2010

auto-retrato.


quarta-feira, 24 de março de 2010

29 do 01.

Há raios caindo na minha sala. Luzes por poucos segundos - seguidas pelo som irresistível do ronco dos céus. É só o que escuto e vejo. Mas ainda sinto meu coração pulsando acelerado - tão veloz e apartado quanto uma vida. (Minha vida breve). Os rastros da chuva escorrendo pelas paredes. O chão úmido sob meus pés.
O barulho de asas batendo nos cantos dos cômodos. Não consigo enxergar nada. Só espero. 26 pássaros vieram me buscar - mas não os encontro.
A ansiedade é como rasgos na pele - veias saltam de dentro de mim. Talvez eu queira vomitar... ou chorar. Se ao menos eu conseguisse dormir. Passo de um salto a outro como quem engole os dias. Onde está a música? O canto? A pena e o vôo?
Sinto no meu corpo a mesma aspereza dos queixos verdes dos homens de barbas mal-feitas. Minha roupa fede àquilo que poderia ser chamado de amor - assim poderão me achar. As horas se arrastam e me envolvem o pescoço.
Sou meu próprio carrasco. Tenho pecados embaixo das unhas. Sou feita do bem e do mal.

flor que me cuidou.

flying at my heart.

terça-feira, 23 de março de 2010

Cheiro de shampoo e gosto de vento.

Dela, eu não sabia muito – pelo menos não tanto quanto eu gostaria. Nem havia algo que justificasse a sua entrada na minha vida – pelo menos não exatamente. Mas, de certa forma, éramos iguais. Não só em certas semelhanças, mas na nossa condição humana. Descobri-la era também uma forma de me conhecer. E compartilhar, fosse como fosse, era também me entregar e receber.
Nem sempre a tarefa de compreender sua humanidade foi indolor, instintiva ou instantânea. Exigia certo esforço - sempre exige. Talvez por saber que só vejo com meus olhos. Tudo o que reconheço nela tem um pouco da minha cor. Não como expectativa, mas só conheço o que conheço. Exatamente com a redundância e a obviedade. E dá vergonha, medo e prazer tentar enxergar todas as minhas partes que fazem partes do outro.
Acho que absorvi muito da nossa rotina de trocas. Despertou em mim uma vontade imediata de viver tantas e tantas coisas com ela. Como se agora, de repente, fizéssemos parte de algo só nosso – nossa relação me era preciosa e densa. Nem de todas as nossas diferenças – e muito menos de nossas igualdades – eu gostava. Mas é isso que sempre a enriqueceu para mim. Isso é que sempre saciou minha curiosidade e minha vontade de senti-la.
E quanto mais eu a via, mais eu me misturava a uma confusão de sentimentos e sensações. A necessidade de mergulhar na obsessão de me cobrir com a teia dos pensamentos dela. Precisava dos seus sorrisos, das suas tristezas, das suas dúvidas, dos seus medos, dos seus versos e reversos. Precisava das suas vindas e das suas partidas. Porque a intensidade é o que me interessa. Porque sou qualquer coisa de amante das pessoas e suas peculiaridades. Sou um tipo de contradição narcísica.
Ela me mostra certo encanto. Como uma professora, uma companheira, uma parceira e uma amiga. Ela é cheia de açúcar e de afeto – e do meu doce preferido. Ela é laranja cítrica e violeta frágil. Laranja forte e violeta clara. Admiração e acolhimento. Ela é uma forma nova de amar – e agora entendo a sua presença: “a vida é a arte do encontro”.