Essa noite, acordada, sonhei com várias mandalas coloridas. Sobrepunham-se. Movimentavam-se. Copiavam o ritmo de organização caótica do universo. Senti que estava flertando com dois anos atrás, desafiando o giro do tempo. Tão mais rápida do que o mundo. Achei que nunca mais fosse dormir. E aqueles desenhos eram todos tão bonitos. A forma como se abriam de um miolo e se propagavam. Um a um, tão abertos ao resto. Cada ritmo de traços contribuindo com uma mesma música gráfica. A própria imagem do meu descompasso com o mundo. Fechando-se ao mesmo tempo em que se espalhavam. Continuavam a dançar até mesmo quando eu abria os olhos. Era tão impossível - mas tão natural - controlá-las. Não lembro em que momento adormeci.
...
- E então, o que você vê? - perguntou enquanto lhe oferecia o caleidoscópio.
- Eu vejo pedras.
(recorte de lembranças alheias)