sexta-feira, 30 de abril de 2010

pé pro alto...


... cabeça no chão.

segunda-feira, 19 de abril de 2010


Meu gato tem
um jeito manso de andar

A preguiça sugere peso às patas
e ele segue sem pressa alguma

como saído de uma rua escura
ou de uma janela para a lua

ou da ninhada de guepardos
coberta pelo corpo quente da mãe
que dorme e protege


Ele - O Gato
tece linhas com sombras de seu bigode
cria um rastro pela casa
Devagar, bem devagar

Cada passo é
para quatro patas
um único passo


O sobe e desce das
lombadas das suas costas

dá um ritmo doce ao seu caminho
Que logo, longe, faz-se longo

quarta-feira, 14 de abril de 2010

3ª pessoa do singular.

Acordou no meio da noite. Como de costume. Mas, dessa vez, a sensação era de que deveria se esforçar para entender como a enxergavam - se é que alguém realmente a via. Essa era uma antiga obsessão. Uma antiga obsessão masoquista e doentia - pois fantasiar distorções a seu respeito era um artifício de auto-destruição.
Sentia como se precisasse do olhar do outro para confirmar sua existência. Era incapaz de conceituar a si própria. Ela sempre deixava que seus pensamentos se perdessem em outros pensamentos - até que eles a tornassem um ser amorfo e egoísta. Não estava livre de seus vícios.
Quando criança, achava estranho não conseguir enxergar o próprio rosto. Afinal, não somos nossa cabeça? Ali onde se concentram os sentidos e as impressões, o próprio raciocínio. Achava que se deixasse entrar água em seus ouvidos, seu cérebro iria ser lavado - e as coisas ruins se afogariam e iriam embora assim que ela chacoalhasse a cabeça para cima e para baixo.
Mas sua madrugada era como uma sala de espelhos. Daqueles que engordam, esticam, misturam. Era impossível achar o espelho da realidade. Era impossível congelar as frases emitidas por outras pessoas na tentativa de decifrá-la. Tudo tão doído e questionável.
De repente, acordou. E lá estava seu gato esfregando a cabecinha em pedido de carinho. Seu gato de olhar compenetrado que podia durar horas, dias. Aquilo era a grande questão: era impossível imaginar o que o gato imaginava sobre ela. Ela nunca foi gato para tentar entendê-lo. Então o olhar era vazio e simples. Era ela e o gato se olhando como realmente são. Nada de críticas ou elogios. E o reflexo naquele amarelo esverdeado nem a incomodavam mais.
Acomodou-se junto ao corpinho miúdo. Afagou os pelos negros e macios. Pensou nos planos para o dia seguinte e voltou a dormir.

out of poket.


terça-feira, 13 de abril de 2010

13 de abril.



sábado, 10 de abril de 2010

Take me out tonight.

(menina
encontrei alguém com quem dividir
as noites frias e as doçuras frisantes)

Qualquer lugar é praia - quando se junta areia e mar. E, se faltar gasolina, paramos ali. Numa rua qualquer. Árvore solitária. Mundo imaginário da nossa ideia perfeita - silêncio e esconderijo - do carro estacionado no escuro. Janelas fechadas. Plocs das garrafas de vidro. Eu e você, inventando segredos-crianças e países-imagens

distantes.


And they are young and alive.
Driving in your car I never never want to go home.

Smiths

sexta-feira, 9 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

roda-mundo.



quarta-feira, 7 de abril de 2010

7 de abril - mais um significado.

3 anos de encontro fatal entre gato e pássaro.

Exatamente como tinha de ser.

Especial de aniversário.

M A R C O : é A M O R e ainda sobra um C.
C de C A M I L A : que sem o C e com um G no lugar do L fica A M I G A.
Mas o que são letras e palavras se a gente tenta e tenta e tenta traduzir algo de nosso mas não consegue alcançá-lo? Letras e palavras são finitas demais.
No dicionário, Amigo é s.m. Homem ligado a outra pessoa por laços de amizade; defensor; aliado. No verso da folha, está escrito Amor s.m. Afeição profunda; objeto dessa afeição; conjunto de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; afeto a pessoas ou coisas; paixão; entusiasmo.


Imagens também não são o suficiente. Elas podem traduzir o sorriso, a falta de vergonha, a cumplicidade e o carinho. Mas o amor, ah, isso elas não podem dizer.
Mas nós, Marcão - ão de irmão, somos os que sabem amar.
Foi em você que eu aprendi que é possível se sentir em casa, porque a minha casa é você. Meu protetor, meu confidente, meu companheiro, meu melhor amigo.
E se eu nunca sonho com você, eu sempre sonho junto com você. Porque somos inseparáveis, unidos não só pelo cachecol.
E é com você que eu compartilho o meu melhor e o meu pior. Porque você é a maior intimidade conquistada.
Nós somos completamente diferentes e sabemos disso. Mas é aí que se esconde o nosso segredo: somos nossa parte que nos falta.
E quantas coisas eu não teria deixado de viver se não fosse com você? Desde roubos de carrinho de supermercado, pijama no museu, viagens aleatórias, dança celta no final da tarde, palhaços no reveillon, fantasiados no James, poledance no Blues Velvet, drag queen na webcam, saltinhos em show de metal, reforma de guarda-roupa, faxina na casa, acordar bêbada no parque barigüi às 10h da manhã, ir pra casa de um desconhecido em Floripa, andar por bairros afastados e estranhos em São Paulo, subir as colinas de Asklan no Campeche, fazer planos e mais planos, assinar uma promessa de ir embora pra Europa, sair pra fotografar, pra pintar, pra escrever, pra criar, pra montar uma banda mexicana, pra tantas outras coisas que demorariam 4 anos para serem contadas.
Enfim, não acho que possa existir um sentimento mais real e profundo do que esse. Quero você comigo para sempre - e sempre ainda seria muito pouco tempo. Você é meu salvador.
Obrigada pelas vezes em que te liguei chorando e você veio até mim - por mais longe que estivesse, até em outra cidade. Obrigada por todas as vezes em que brigamos - e por tudo o que aprendi com isso. Obrigada por todas as vezes em que você permitiu que eu tivesse meu tempo sozinha - mesmo quando você estava precisando de mim. Obrigada por ter se tornado um filho para a minha mãe e um irmão para mim. Obrigada por me deixar segura. Obrigada por acreditar em mim. Obrigada pelas coisas que você já pagou. Obrigada pelos passeios e vivências. Obrigada por todas as vezes em que você confiou em mim. Obrigada por todas as vezes em que você me acompanhou. Obrigada por nunca nunca nunca ter me abandonado.
São tantos obrigadas que talvez eu devesse resumir: SOU GRATA.
Aceito você em sua totalidade - com todos os defeitos e todas as qualidade. E te admiro plenamente.

Amo você, meu querido. E pra você toda a felicidade do mundo.
Melhor amigo.

Anedote.

Em uma quinta-feira de março, encontrei um amigo por acaso. Na mesma noite, ele me apresentou um de seus colegas de faculdade. De repente esse novo conhecido me pendurou nos ombros e começou a girar.
Aí ele perguntou: é assim que você se sente?
Como? De cabeça para baixo e com o mundo rodando? Suspensa?

É, às vezes...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Manual prático do transporte coletivo.

No elevador, as distâncias devem ser milimetricamente calculadas. Deve-se ficar equidistante de cada passageiro. Em caso de apenas dois usuários, fica-se o mais longe possível. Se o elevador está lotado, espere o próximo. Se o elevador está vazio, desfrute da sua confortável liberdade - certifique-se de que não há câmeras de segurança.
Se a respectiva construção for de uso público - ou se em cada andar houver mais de um apartamento - lembre-se de lavar as mãos ao chegar ao seu destino.
O contato humano deve ser evitado. Não nos responsabilizamos por partes deixadas no interior do veículo. (livre interpretação aqui).
O espelho é sempre um perigo. Lembre-se que olhar para os outros através dele só faz com que você veja a si mesmo.

obs. O elevador sempre subirá e descerá sem necessariamente chegar a lugar algum. As pessoas participantes do trajeto nada mais são do que passageiras - em todos os sentidos atribuídos à palavra. E 'bom dia' é gentileza - porque ninguém vai se importar se o seu dia foi ou não ruim. Ainda assim, não seja grosseiro. Isso seria se expor ao ridículo de se tornar um ser humano.

Sem "de" ou sem "para".

De que me serve um abraço torto
se as garras
(como as palavras)
estão afiadas e fincadas em mim?
Então aqui fizemos a curva definitiva: agora nos aproximamos da nossa distância e transformamos a calma em ódio e vazio. Existem palavras dentro e fora de casa - na nossa existência de caracol. E as letras mastigam a vida para que possamos engolí-la. Não deixe que elas escapem pelos seus dedos. Mas também não os cerre demais - a ponto de te impedir de agarrar outras mãos.

sábado, 3 de abril de 2010

Manhã de sábado.

Deitamos um em frente ao outro. Olhos fechados - embora às vezes eu aproveitasse para espiá-lo. E você, você se moveu para frente. Encostou sua cabecinha na ponta do meu nariz. Os fios que saíam do seu rosto fizeram cócegas no meu sorriso. Eu podia sentir o peso e o cheiro dos seus pelos. Suas garras me acarinhando. Do seu retrato em preto e branco - o mais colorido deles - vejo escapar à regra duas bolas amarelas. Talvez verdes. Um redemoinho de tons entrelaçados e profundos. Nossos gestos são palavras que não precisam ser pronunciadas. Gosto de vê-lo sob o sol. Dormindo em posição fetal, todo tortinho. Gosto de me ver refletida no seu olhar. Sei que você me enxerga assim. Simples. Reconheço a sua voz e você a minha - quando nos chamamos no silêncio. A sua sinceridade é o amor mais puro do mundo. Solitário como só um gato pode ser.