quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

deixa a tempestade nos beijar.

Às vezes eu penso que ninguém deveria deixar de responder uma carta honestamente escrita.

Às vezes eu penso que sempre estivemos dançando uma mesma dança. Não necessariamente juntas, mas acompanhando os mesmos passos - um pra frente, dois pra trás. Até que nos distanciamos tanto que não mais notamos que a coreografia é a mesma.
Mas nesse salão as pessoas sempre se encontram e depois se vão.
Talvez simplesmente não seja um ritmo de se dançar a dois.

E eu sou mesmo daquele tipo desengonçado que pisa no pé, que não sabe conduzir - mas que também não quer ser conduzida. Do tipo ansioso que não vê a hora da música acabar ou recomeçar.
O problema é que também sou do tipo que volta pra casa cheia de resquícios. Ainda cantarolando o mesmo som. Ensaiando como poderia ter sido, como eu queria ter encontrado o compasso certo.
Lembrando do rosto de quem chegou tão perto.

Fico imaginando como seria bom que toda conversa ao pé do ouvido fosse sincera. Que mesmo que a melodia soasse muito mais alta, a gente escutasse a voz do nosso próprio par.
E que cada palavra fosse tão bem entendida que não precisássemos de mais nada além das notas musicais.
Mas eu não conheço nenhuma canção que possa fazer de mim melhor bailarina. Tampouco sei falar por instrumentos e linhas de partitura.
Eu estou sempre fora de tempo, você sabe.

Continuo apostando na imprevisibilidade. Insisto - nada é definitivo.
Mesmo que seja sempre o mesmo disco a rodar e rodar novamente.
A gente tem mesmo é que ensaiar.

Palavras são uma injustiça. Nós simplesmente as entregamos ao outro e ele que lide com elas.
Só que o silêncio é tão mais cruel, minha querida. É lá que todas as palavras se escondem.
E quando se é uma caçadora surda como eu... - você sabia que eu fiquei surda? Não, não completamente. Mas agora é só um ruído que me acompanha. E, se tento decifrá-lo, só encontro ausência.
Não escuto o timbre agudo dos pássaros. Mas você, passarinha, já nem canta mais.
Eu sei, esse miado mais parece choro. É que eu-gato ficou preso na gaiola enquanto a presa voou, voou.

'Presa', que palavra horrível. Nunca foi presa, sempre te quis livre. Marcar território é coisa de outra espécie - não é coisa minha. Talvez justamente esse o meu erro. Não sei.
Mas, se amar não fosse triste, não haveria valsa, samba, bossa, rock. Nem mesmo haveria poesia.
E o que seria da tristeza sem a beleza da triste poesia?

Queria acreditar que toda carta honestamente escrita fosse lida.

E que suas asas, respondendo, enviassem até mim o que restou de amor.

Nenhum comentário: