
... cabeça no chão.

Qualquer lugar é praia - quando se junta areia e mar. E, se faltar gasolina, paramos ali. Numa rua qualquer. Árvore solitária. Mundo imaginário da nossa ideia perfeita - silêncio e esconderijo - do carro estacionado no escuro. Janelas fechadas. Plocs das garrafas de vidro. Eu e você, inventando segredos-crianças e países-imagens 
Deitamos um em frente ao outro. Olhos fechados - embora às vezes eu aproveitasse para espiá-lo. E você, você se moveu para frente. Encostou sua cabecinha na ponta do meu nariz. Os fios que saíam do seu rosto fizeram cócegas no meu sorriso. Eu podia sentir o peso e o cheiro dos seus pelos. Suas garras me acarinhando. Do seu retrato em preto e branco - o mais colorido deles - vejo escapar à regra duas bolas amarelas. Talvez verdes. Um redemoinho de tons entrelaçados e profundos. Nossos gestos são palavras que não precisam ser pronunciadas. Gosto de vê-lo sob o sol. Dormindo em posição fetal, todo tortinho. Gosto de me ver refletida no seu olhar. Sei que você me enxerga assim. Simples. Reconheço a sua voz e você a minha - quando nos chamamos no silêncio. A sua sinceridade é o amor mais puro do mundo. Solitário como só um gato pode ser.