quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nunca tinha visto um lobo antes.

Encarava-me com indiferença. Não, com desdém. Seus olhos de pupilas cada vez maiores eram como os de um predador. Acusavam-me com raiva, com fome, com pudor. E eu, a presa, preparava-me para encarar o bote. Desprevinida. Foi rápido, certeiro e doído. Mas eu resisti. E o ataque continuou. Até que, cansada e machucada, eu me rendi. As feridas sangravam e eu não conseguia correr, fugir. Fiquei ali, chorando a impossibilidade. Vai, termina com isso! Rasga de morte ou devora! Mas recuou sem me dar chance. Deixou-me assim, inacabada. E agora os olhos eram de dúvida. Dúvida para mim, que já não conseguia diferenciar o que era meu e o que era fera. Sobrou o silêncio e a falta. Nem morte, nem vida. Fiquei ali na metade do caminho. Sofrendo. Mas incapaz de sentir.

(E se me restassem forças para escolher? Seria a morte o final. De quem? Eu já não sei).

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